sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008


UM OLHAR SOBRE A BÍBLIA

O Espiritismo respeita todas as religiões e doutrinas, valoriza todos os esforços para a prática do bem e trabalha pela confraternização e pela paz entre todas as pessoas. Reconhece que "o verdadeiro homem de bem é o que cumpre a lei da justiça, de amor e de caridade, na sua maior pureza". Mas, vez por outra seus adeptos são taxados de anticristos e demônios por alguns seguidores de outros credos religiosos. Tudo isso, porque na Doutrina Espírita não se utiliza a Bíblia de forma radical.
Escrita durante muitos séculos e sendo produto de muitas mãos, a Bíblia é chamada de "a palavra de Deus". A expressão é de origem judaica e foi herdada pelo cristianismo que a utilizou para o mesmo fim dos judeus: dar autoridade à Igreja. Desde a sua língua original até chegar ao Ocidente, passou do hebraico para o grego, daí para o latim com a Vulgata de São Jerônimo, depois para os diversos idiomas ocidentais e finalmente para o português. No nosso idioma encontramos diversas traduções com algumas divergências entre si, o que deixa transparecer questão pessoal de cada corrente religiosa. O Novo Testamento na tradução do pastor protestante João Ferreira de Almeida, publicado em 1681, foi muito discutido por apresentar vários erros. O próprio Ferreira reuniu uma lista com dois mil.
Um questionamento que muita gente recusa fazer é porque existem tantos tipos de Bíblias em português, quando a Bíblia hebraica que as originou é uma só. Não é difícil responder. Os homens criaram, através dos tempos, conceitos e adaptações dos textos bíblicos às suas conveniências pessoais. Começa pela diferença entre a Bíblia Católica com 73 livros e a Protestante com 66, quando a Bíblia Hebraica tem apenas 24 livros. Uma das alterações que podemos citar é a condenação ao Espiritismo. Como seria possível, se este só tem 150 anos? A falta de fidelidade de algumas traduções nos faz recordar um trecho da carta que São Jerônimo escreveu ao papa Dâmaso, sobre a tradução da Bíblia do grego para o latim: "(...) a verdade não poderia existir em coisas que divergem (...)". Era sua preocupação com o peso da responsabilidade que lhe fora imposta na tradução da Vulgata.
Não é fácil questionar a Bíblia para pessoas apegadas ao fanatismo religioso, que preferem tomar ao pé da letra as inúmeras expressões alegóricas nela contidas. Como afirma o padre Shigeyuki, do Centro Bíblico Verbo, "a ambigüidade no uso da Bíblia aparece constantemente no nosso dia-a-dia. Conforme a interpretação, pode-se transformá-la em instrumento de vida e de libertação, ou de morte e opressão". O recomendável é que sua leitura seja feita com isenção de preconceitos, mente livre não subordinada a dogmas, raciocínio investigativo, cultura ampla e diversificada, humildade para entender os escritos e não querer impor aos escritos o que se tem em mente, e acima de tudo, coração desprendido e unido a Deus. Deve-se concluir que a Bíblia não é um erro, mas que os homens se equivocam ao interpretá-la.


Francinaldo Rafael é Espírita e mora em Mossoró.

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