quinta-feira, 20 de maio de 2010

Dois colunistas do Jornal O mossoroense publicaram na edição de hoje, artigos fazendo alusão ao Presidente Lula como "O Cara". Fiz questão de reproduzí-los na íntegra, por entender que foram muito felizes e coerentes com o melhor Presidente que este país já teve.
Desejo boa leitura!

NÃO ADIANTA: ELE É "O CARA"


Por Laire Rosado

Houve tempo em que lia, com interesse, as previsões astrológicas do ano que se iniciava. Costumava recortar e guardar essas projeções para depois conferir se algumas das predições se confirmavam. Chegava o ano seguinte e preferia que alguma revista fizesse esse trabalho, principalmente naquilo que fosse considerado mais importante. Não lembro se as cartas e os astros adiantaram a trajetória política do presidente Lula ou a projeção internacional que alcançou. Sem fama de cartomante, o presidente Barack Obama, cujas habilidades de sensitivo não são conhecidas, arriscou ao declarar sobre Lula, "ele é o cara". Não adianta estrilar, porque ele é mesmo "o cara".

Em países estrangeiros, o Brasil já foi conhecido por conta da Amazônia, ou dos índios. Por longos anos Pelé foi a referência internacional, passando a bola para Ayrton Senna e Ronaldinho. FHC, procurou essa popularidade e não atingiu seu objetivo. Lula, com toda simplicidade, falando a linguagem do povo, é a referência número um do Brasil em terras além-mares. Com naturalidade e competência assumiu definitivamente a liderança do hemisfério sul. O que não se esperava era que, tendo a Turquia como aliado, deixasse de ser intermediário somente entre países latino-americanos e desse um salto até o Irã, assinando acordo com o irrequieto presidente Mahmoud Ahmadinejad.
Lula faz questão de dividir o mérito do acordo com o primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan e, é claro, com o presidente do Irã. Este afirmou que seu maior problema era não conseguir que ninguém sentasse com ele para negociar o entendimento. Para o presidente Lula, os três países fizeram exatamente o que os Estados Unidos procuravam fazer há cinco ou seis meses. Acontece que os países que compõem o Conselho de Segurança da ONU (Estados Unidos, Reino Unido, França, China e Alemanha) não estão querendo negociar e só querem aplicar sanções. O ponto principal do acordo consiste no Irã depositar seu Urânio na Turquia. Tudo foi concordado.

Com essa vitória, Lula consolidou o Brasil no cenário internacional. Analistas da BBC de Londres reconhecem o mérito de Lula. O jornalista e pesquisador Douglas Farah, do Internacional Assessment and Strategy, organismo que se ocupa com a segurança americana de longo e médio prazos, reconheceu que Lula é capaz de ir a campo e conseguir algum tipo de entendimento. Alireza Nader, especialista em assuntos do Irã da Rand Corporation, fez a mesma avaliação ao dizer que o Brasil consegue elevar sua importância ao lidar com uma questão dessa natureza. Lula está em estado de graça. E, para completar, sua candidata ultrapassou o adversário nas pesquisas eleitorais.




“O CARA”

Por Pablo Capistrano

Há algumas semanas foi ao ar um programa na Globo News, com o Geneton Morais Netto contendo uma longa entrevista com o general Leônidas Pires, que entrou para a história recente do Brasil como um dos militares da "área moderada" do regime de 64. Lá para as tantas ao ser perguntado sobre o presidente Lula o velho general se mostrou simpático, dizendo que na época ele era bem visto pelos círculos militares porque, afinal, lutava junto à legalidade.

Imediatamente me lembrei de uma velha tese discutida na cozinha lá da casa de minha avó Aline Capistrano. Lembrei de meu pai e meus tios debatendo calorosamente a hipótese de que Lula teria sido "uma invenção de Golberi". Essa tese correu entre os membros do partidão na época do nascimento do PT. A ideia era simples: Lula era o homem certo para minar qualquer tipo de avanço dos comunistas no período da abertura. Um líder egresso das massas trabalhadoras, que não havia sido "contaminado" pela doutrina da velha esquerda de Prestes e João Amazonas, ligado à Igreja, carismático e... corintiano (bem, não sei como isso possa ter influenciado, mas tem gente que diz que teve algum peso).

Hoje, trinta anos depois dos acontecimentos grevistas do ABC paulista, Lula aparece na revista Time como uma das lideranças mais influentes do mundo. Como qualquer figura política complexa é muito perigoso falar sobre Lula. Facilmente uma interpretação qualquer pode se perder em uma leitura rasa e redutora.

Há, no entanto, alguns pontos que parecem cada vez mais evidentes à medida que seus oito anos de governo se aproximam do fim. O primeiro ponto é que o Lula-presidente transcendeu a disputa partidária brasileira e aparece como uma força política de convergência. O discurso do "camarada" Serra mostra isso. A estratégia serrista de mudar o discurso tucano, aproximando-se da esquerda com uma pregação de "estado robusto" e com críticas a autonomia do Banco Central, surge no sentido de anular a estratégia de polarização que a campanha de Dilma tenta montar a partir de uma comparação entre os oito anos de governo de Lula e os oito anos de FHC.

Serra definitivamente sacrificou FHC no altar da eleição de 2010 e sua estratégia (bem inteligente, diga-se de passagem) acaba por afastar tanto FHC quanto Lula do debate, lançando o segundo a um patamar canônico metaeleitoral e o primeiro no limbo obscuro da história. Serra tenta pôr Lula equidistante, usando para isso as mesmas armas que consolidaram a popularidade do petista.

Um outro ponto, que cada vez se torna mais evidente, é que "o cara" foi o mais importante instrumento de consolidação do capitalismo brasileiro desde Vargas. Digo isso porque poucos presidentes serviram tão bem aos interesses de preservação do sistema capitalista quanto Lula. Sua mitologia pessoal é essencial para que a pressão social no Brasil não esprema o país na murada do caos público. É fundamental para o sistema que um cara como Lula ascenda ao poder e promova um amplo mecanismo de inclusão social preservando os bancos e o patrimônio do empresariado paulista. De vez em quando precisamos de heróis da classe oprimida para aliviar a tensão histórica que opõem servos e senhores em uma dialética de equilíbrio e tensão.

Lula serviu bem a estabilidade social brasileira e mostrou ao capital como é possível desenvolver a economia com inclusão e distribuição de renda. Isso é péssimo para os profetas do marxismo que ainda sonham com a revolução socialista. Justamente por causa disso é fácil saber o porquê da Time ter encontrado em Lula o paradigma da liderança latina. Lula é o anti Chávez. Ele se fortalece no consenso e se torna mais poderoso à medida que transcende o conflito social e se põe em um patamar de transcendência política, representando a plebe para que o patrício não seja enforcado em suas próprias tripas. Chávez para se manter no poder necessita de um estado latente de conflito. As condições históricas da Venezuela levam Chávez a se alimentar a partir de um estado permanente de pré-confronto, de uma eterna antessala da catástrofe.

Lula definitivamente é "o cara" e eu imagino como deve ter sido insuportável para a direita brasileira seus oitos anos de governo. Chego a sentir uma piedade sincera de gente como o Nerval Pereira, chorando na CBN e dizendo: "Será que não existe um candidato de direita nesse país!" - É Nerval, a coisa está difícil para os reacionários... parece que no Brasil todo político é ambidestro - Com a palavra "O Camarada Serra"...

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