quinta-feira, 20 de agosto de 2009


O GIGANTE DEITADO

Marcela (nome fictício) acredita que nasceu para ter dificuldades. Reclama que nasceu sem sorte. Todas as pessoas que conhece são felizes e capazes de construírem algo. Mas com ela nada dá certo. Claro que isso é na sua visão de coitadinha. Leva uma vida saudável e cheia de oportunidades. Com esse pensamento negativista prefere não se esforçar em nada e espera que tudo caia do céu. Por outro lado, o mineiro Jerônimo Mendonça totalmente paralítico e cego viajou Brasil afora realizando palestras, consolando e orientando dezenas de pessoas.

Nascido em Ituiutaba (MG) no dia 1º de novembro de 1939, Jerônimo Mendonça Ribeiro teve a infância de uma criança normal. Já na puberdade começou a sentir dores nas articulações, principalmente nos joelhos e tornozelos. Aos 18 anos Jerônimo andava com dificuldade. Depois viu-se preso a cadeira de rodas e em seguida a uma cama ortopédica por cerca de 30 anos, vítima de artrite reumatoide. Mesmo tendo submetido-se a rigorosos tratamentos com especialistas da medicina, a doença não cedeu. O mal era progressivo. Na sucessão de anos perdeu o movimento dos braços e em 1970, a visão.

Conheceu e abraçou a Doutrina Espírita ainda na mocidade. Tudo que com ela aprendeu soube aplicar em sua vida. Sabia e sentia que seu sofrimento era efeito de atitudes equivocadas em outras encarnações. Nunca deixou-se abater, transformando seu leito em local ambulante de trabalho. A cama havia sido projetada por inspiração e tinha a inclinação exata para que permanecesse vivo. Para amenizar as dores, mantinha sobre o peito um peso de trinta quilogramas. O sofrimento físico era tanto que ele não dormia. Certa feita perguntado por um repórter sobre felicidade, respondeu: - A felicidade para mim, deitado há tanto tempo sem possibilidade de me mexer, seria poder virar de lado. Aproveitou a chance para falar sobre o amor e o valor da vida. Essa entrevista livrou do suicídio uma senhora que havia perdido a razão de viver.

Jerônimo tornou-se um grande divulgador do Espiritismo, sendo constantemente levado Brasil afora por mãos amigas. Para sua locomoção, deram-lhe uma Kombi, onde adaptava a cama. Mesmo diante de todas as limitações que a doença lhe impunha, deixou seis livros editados, discos gravados, fez campanhas para arrecadação de recursos para ajudar necessitados. O Centro Espírita Seareiros de Jesus, Gráfica Espírita Cairbar Schutel, Lar Espírita Pouso do Amanhecer, em Ituiutaba (MG), Comunidade Espírita Maria João de Deus e a Casa da Sopa Jerônimo Mendonça em São José dos Campos (SP) estão entre as obras deixadas por ele.

Pelo enorme exemplo, Jerônimo foi apelidado pelos amigos e pela imprensa "O Gigante Deitado". Fisicamente deitado, porém moralmente sempre esteve de pé. Depois de suportar resignadamente seu calvário, deixou sua vitoriosa existência física aos 50 anos de idade, por insuficiência cardiovascular. Como um pássaro, libertou-se tranquilo e sereno.

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