quarta-feira, 16 de setembro de 2009

VALE A PENA LER!

José Agripino mentiu
sem precisar ser torturado


Antônio Capistrano escreveu no site o Vermelho sobre a estapafúrdia afirmação de José Agripino a O Mossoroense de que nunca havia apoiado a ditadura militar. Eis o seu fundamentado artigo: O senador José Agripino concedeu uma entrevista, no último domingo, 13, ao jornalista Bruno Barreto, editor político do jornal O Mossoroense. Indagado se ele se arrependeu de ter apoiado o Regime Militar, ele respondeu: "Eu não apoiei o Regime Militar. Nunca apoiei o Regime Militar. Pelo contrário. Eu fui prefeito no final do Regime Militar. Eu teria razões para me orgulhar de ter sido artífice da transição e da redemocratização. Ao romper com o meu partido, passando a apoiar, no Colégio Eleitoral, o nome de Tancredo Neves para presidente da república, do ponto de vista político e administrativo paguei um preço alto, na época eu era governador e muito do que estava comprometido de verbas para a minha ação no governo, foi cortada. Além do desgaste político de apoiar o mesmo candidato do meu adversário Aluízio Alves". Essa é a versão do senador José Agripino Maia. Mas, a verdade é outra. Existem alguns equívocos ou inverdades nessa história. Vamos aos fatos. José Agripino foi escolhido, pela Assembleia Legislativa, prefeito de Natal em 1979, portanto, em pleno Regime Militar e não no final do Regime como ele disse na entrevista. O seu nome foi encaminhado para ser homologado pelo Poder Legislativo Estadual, pelo seu primo Lavoisier Maia que substituiu o seu pai, Tarcísio Maia, no Governo do Estado. Vale salientar, os dois foram nomeados governadores pelo Regime Militar com a concordância de Aluízio Alves, naquele momento seu correligionário político (quem não se lembra da famosa "Paz Pública", que resultou na escolha de Lavoisier Maia para o Governo do Estado, Geraldo Melo para vice-governador, Jessé Pinto Freire para o Senado e José Agripino Maia para prefeito da capital?). José Agripino exerceu a função de prefeito biônico de Natal de 1979 a 1982. O Regime Militar implantado em 1964 teve como último presidente o general João Baptista Figueiredo, que governou até 1985, portanto Zé Agripino Maia foi prefeito de Natal durante o Regime Militar. Só para lembrar: Tarcísio Maia foi nomeado governador biônico, substituindo Cortez Pereira, que era biônico também, por indicação do general Golbery do Couto e Silva, com o apoio decisivo de Aluízio Alves, que vetou o nome de Dix-huit Rosado Maia, um dos cotados para o cargo. A escolha se deu em 1974. Aluízio ainda participou da indicação do vice, indicando o médico e ex-reitor da UFRN, Genibaldo Barros. Outro fato narrado pelo senador que merece um esclarecimento, a sua eleição para o governo em 1982 e a derrota de Aluízio Alves. Aluízio era um candidato considerado por muitos, imbatível. Zé Agripino não disse, na entrevista, que essa eleição foi viciada por uma legislação eleitoral casuística que dificultou a escolha livre do cidadão. O Regime Militar criou o voto vinculado, de vereador a governador só podia votar em candidato do mesmo partido, além da figura do senador biônico. Tudo com um objetivo, prejudicar a oposição, principalmente no Nordeste. Cito como exemplo os casos de Aluízio Alves, no Rio Grande do Norte e o de Marcos Freire, em Pernambuco. Os dois estavam disparados na preferência popular, mas foram derrotados pela legislação eleitoral imposta pelo governo militar. O filho de Tarcísio Maia, José Agripino Maia foi o candidato de Figueiredo ao Governo do Estado, Carlos Alberto de Souza foi o escolhido para concorrer uma vaga ao Senado e o velho Dinarte Mariz, já no fim da sua liderança política, foi contemplando com a vaga de senador biônico. Carlos Alberto que era deputado federal foi premiado por ter sido relator da CPI do atentado terrorista ao Rio Center, fato ocorrido no Rio de Janeiro e, como relator inocentou os militares envolvidos nesse ato. Além da vaga de senador, Carlos Alberto ganhou a concessão de um canal de televisão. Portanto, José Agripino Maia surgiu na política potiguar graças ao Regime Militar de 1964, ele é filho político desse período da história brasileira, ele não pode negar a sua origem e trajetória política, pode até renegar a ditadura militar, mas não pode simplesmente dizer que não foi beneficiário do Regime Militar, ele e a sua família. O ex-governador Aluízio Alves, nesses últimos 50 anos, o maior líder político do Rio Grande do Norte, conta essa história, bem direitinho, no seu relato: "O que eu não esqueci", livro publicado em 2001 pela editora Leo Christiano Editorial - RJ. Agora, o senador não explicou o porquê da divisão dos Maias no colégio eleitoral que escolheu o último presidente de forma indireta. Tarcísio Maia ficou com Mário Andreazza; Lavoisier Maia, com Paulo Maluf e, José Agripino Maia com Tancredo Neves. Qualquer um que fosse eleito, os Maias ficariam por cima. Não se pode negar a história. Sei que ela é feita pelos vencedores e que as versões às vezes valem mais do que os fatos, mas, a verdade é essa, José Agripino Maia não pode desvencilhar a sua história política da ditadura militar, ele é fruto, por obra e graça, do Regime Militar. Claro que ele tem seus méritos, soube consolidar uma liderança que se iniciou biônica e depois se popularizou com a força e os instrumentos do poder.


Mas... Tem mais
É bom lembrar que José Agripino herdou as bases de Dinarte Mariz, o ícone do apoio à ditadura militar. Quem não lembra da charge do Cartão Amarelo na capa do Poti que trazia Dinarte Mariz arrancando Tarcísio Maia do túmulo? Que a nomeação do seu pai governador biônico teve também grande influência do seu tio João Agripino, ex-governador da Paraíba, velha raposa da velha UDN e que foi ministro de Jânio Quadros, mas apoiou o golpe militar, como se pode constatar na Wikipédia, quando da derrubada de Jango. Que quando José Agripino foi candidato a governador em 1982, o presidente Figueiredo declarou à imprensa potiguar que para eleger seus candidatos o governo poderia cometer alguns pecados. E que naquela ocasião o advogado e jornalista Jayme Hipólito, no mesmo O Mossoroense, onde ele declarou que não apoiou a ditadura militar, que "pecado" no plano administrativo é sinônimo de "peculato", que é sinônimo de corrupção, que, como sabemos, correu solta para elegê-lo governador. Peculato, no Aurélio, quer dizer: Delito praticado pelo funcionário público que, tendo, em razão do cargo, a posse de dinheiro, valor, ou qualquer outro móvel, público ou particular, deles se apropria, ou os desvia, em proveito próprio ou alheio, ou que, embora não tenha posse desses bens, os subtrai ou concorre para que sejam subtraídos, usando das facilidades que seu cargo proporciona: William Shakespeare já dizia: "Alguns se elevam pelo pecado, outros caem pela virtude". Foi assim que Dilma "caiu", jargão da esquerda para os militantes que iam presos durante a ditadura. E na virtude manteve-se mesmo sob tortura, pois teve a dignidade de mentir para salvar vidas dos companheiros. Ser fraco é falar a verdade. Cristo sob tortura não afirmou nem ser o Rei dos Judeus. "Tu o dizes", a resposta à tortura psicológica que se seguiu à tortura física. José Agripino agora mente sem precisar de tortura. Nada mais natural para alguém que se elevou pela força do pecado.


FONTE: www.defato.com/crispiniano.php

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