domingo, 14 de fevereiro de 2010

Vejam entrevista do Deputado Estadual Fernando Mineiro(PT) ao "nominuto.com"

O PT virou "trintão"

Por Alisson Almeida
O Partido dos Trabalhadores, nascido no contexto da luta contra a ditadura militar, completa 30 anos com as atenções voltadas às próximas eleições.
Na última quarta-feira (10), o Partido dos Trabalhadores completou 30 anos de fundação. Desde aquele 10 de fevereiro de 1980 – quando sindicalistas, intelectuais de esquerda e religiosos ligados à Teologia da Libertação, reunidos no Colégio Sion (São Paulo), criaram a legenda – muita coisa mudou. O partido passou por uma espécie de lipoaspiração ideológica para se livrar da gordura sectarista e começou a jogar o jogo da chamada realpolitik.
Com a vitória do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2002, o partido começou a viver “a dor e a delícia” do poder. A “Era Lula” se aproxima do fim e o PT se prepara para outro embate cujo final é imprevisível: disputar a primeira eleição presidencial sem a presença de Lula como candidato. Ele é o maior ícone da agremiação e participou de todos os pleitos após a redemocratização do país.
A ungida do partido e do presidente Lula para a missão é a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. Militante histórica da esquerda, Dilma teve atuação destacada no combate ao regime de exceção, chegando, inclusive, a ser presa e torturada pela ditadura. Contra ela pesa a desconfiança da inexperiência eleitoral e o temor de que, uma vez na Presidência da República, seria apenas uma marionete de Lula.
Em entrevista ao Nominuto.com, o deputado estadual Fernando Mineiro – fundador do PT no Rio Grande do Norte – relembra, em tom saudosista, a trajetória do petismo brasileiro e potiguar, enumera as contribuições que o partido deu à democracia brasileira e reflete sobre o futuro da legenda e da esquerda.

Leia, a seguir, a íntegra da entrevista com Fernando Mineiro:

Nominuto: Deputado, como o senhor avalia a trajetória do PT nestes 30 anos de história?

Fernando Mineiro: Pois é, a partir deste ano o PT se torna uma instituição balzaquiana. Eu faço um balanço positivo da trajetória do PT. EU penso que se nós colocarmos na balança a nossa trajetória, analisando os nossos acertos e nossos erros – nós temos erros, qualquer instituição traz em seu conjunto de demandas erros também, com o PT não é diferente – vamos ter muito mais acertos que erros. Eu até tenho dito, escrevi um artigo dizendo que qualquer olhar honesto da história contemporânea brasileira verá as contribuições que o PT deu e vem dando à democracia no Brasil.

Nominuto: Quais seriam essas contribuições?

Fernando Mineiro: Eu acho que a coisa mais valorosa foi a incorporação de milhões de pessoas à cidadania política. Quem conhece minimamente a história contemporânea brasileira sabe que existe um divórcio entre partidos no geral e a sociedade. Boa parte da sociedade e as representações dos trabalhadores são alijadas da vida política. Então o PT representa a entrada de outros atores até então excluídos para a atividade política. Isso para mim é a maior contribuição. Ao ser uma política que incorpora esses atores o partido desenvolveu políticas públicas que modificou os executivos e os parlamentos brasileiros. Independente de quem goste ou não do PT, o modo petista de governar e legislar são realidades incorporadas ao estado brasileiro em muitos aspectos: os orçamentos participativos, os conselhos estaduais, a questão democrática, as políticas públicas, uma série de ações que são correntes na administração pública e certamente têm a participação do Partido dos Trabalhadores.

Nominuto: O PT chegou muito jovem ao poder e está há oito anos na Presidência da República. Havia uma desconfiança muito grande sobre a capacidade de o partido administrar o país, principalmente com uma liderança como Lula, que veio do movimento sindical e não tinha formação universitária. O partido superou essa desconfiança?

Fernando Mineiro: Você percebeu que todos os prognósticos negativos contra o PT não se realizaram? Nesses dias eu tenho analisado a história do PT, tenho visto as fotografias, as matérias... eu tenho isto isso... o surgimento do PT, as críticas eram que o partido não iria se viabilizar. Diziam ‘é, esse partido não vai da certo, um partido feito só de trabalhadores, intelectuais, isso é coisa de universitário’... Hoje o partido é uma realidade, tem mais de um milhão de filiados no Brasil. Também o prognóstico de que o governo Lula iria fracassar. Eu estive na posse do presidente Lula em janeiro de 2003. Você pode olhar na Internet pra ver que não estou mentindo. Todas as revistas e todos os grandes jornais do Brasil, naquele 1º de janeiro, noticiaram assim a posse: ‘mas’, sempre tinha um ‘mas’. ‘mas o governo não vai ter maioria’, ‘mas o governo é incompetente’, ‘mas o governo não vai ter representatividade internacional’, ‘mas o PT não sabe administrar’... Um monte de ‘mas’. Todos os ‘mas’, caíram. O governo do presidente Lula é respeitado internacionalmente, é só ver os prêmios que o presidente Lula tem recebido. O governo do presidente Lula não é só do PT, mas de um conjunto de forças aliadas, um governo de coalizão, o governo do presidente Lula fez transformações econômicas e sociais no Brasil. É por isso que eu digo que temos motivos, termos o que comemorar, temos razão pra ter orgulho em relação a isso e humildade pra reconhecer as dificuldades e os limites. Eu me sinto muito orgulho de ser fundador do PT, participar desse processo e acho que o PT é um grande partido, tem passado, tem presente e tem futuro.

Nominuto: O PT se prepara para viver o “pós-Lula”. Vai ser a primeira eleição presidencial em que o presidente não participa como candidato, desde a redemocratização. O partido está preparado para viver essa nova fase?

Fernando Mineiro: Não é só o PT que vai viver uma eleição presidencial sem o Lula. A sociedade brasileira vai viver isso. O Lula sempre participou de forma marcante como candidato. Agora se engana quem acha que o Lula não vai estar presente. Não vai estar presente como candidato, mas vai estar presente como principal coordenador desse processo...

Nominuto: Como cabo eleitoral...

Fernando Mineiro: Aí não, ele já é um general. Cabo eleitoral sou eu (risos). Ele é general. Patente máxima. Ele vai ser o coordenador desse processo, vai coordenar sua sucessão, vai influir nessa questão. É muito legal a gente viver o oitavo ano do presidente Lula, o fim do governo do presidente Lula com os 30 anos do PT. O PT está maduro, sim, pra passar essa era “pós-Lula”. O Lula vai estar sempre presente na vida do PT. Não vai ta o presidente, mai vai estar presente.

Nominuto: Qual seria o papel do presidente Lula num eventual governo Dilma Rousseff?

Fernando Mineiro: Na minha opinião, primeiro de grande torcedor, como ele gosta de dizer. Eu acho que ele vai torcer para o governo mais que para o Corinthians. Eu acho também que como conselheiro. O Lula tem uma experiência muito grande, ele mesmo tem dito isso, que quer ajudar, contribuir. O presidente Lula está intrinsecamente ligado à história das lutas políticas no Brasil. Ele não vai pendurar as chuteiras da política. A nossa geração não vai conhecer um cidadão político como o Lula, pode vir num outro período histórico, mas agora não. Pela singularidade, pela origem, pela capacidade. Eu acho que o Lula é uma pessoa muito especial neste sentido. A marca do presidente Lula é a capacidade de ouvir, negociar, convencer e conviver com os contrários. Quem conhece a história do Lula antes de ser presidente, no movimento sindical, sabe disso. Ele era o grande negociador e só é negociador quem escuta, só convence porque incorpora posições, não tem idéia fixa.

Nominuto: A ministra Dilma representa bem o ideário do PT e está pronta para levar adiante o projeto iniciado pelo presidente Lula?

Fernando Mineiro: Primeiro, preparadíssima. Ela representa, sim, o ideário do PT e está preparadíssima. Até porque, vamos entender aqui, ela é a responsável, em grande parte, pelo sucesso do presidente Lula. Ela coordena a área de projetos, ações, a área de governo. Então, o Lula determina as orientações e quem executa é ela. Mais que preparada: pela história que a Dilma tem, uma mulher de luta, em momentos cruciais da ditadura brasileira não teve medo de qualquer a própria vida em risco para lutar contra... Então isso é uma coisa muito boa. Eu acho que o Brasil ganha muito com o pós-Lula experimentar por uma mulher. Olha só que avanço. Mas não é qualquer mulher: é uma mulher como a Dilma. Olha só que fantástico, quem conhece a história do Brasil, você ter um presidente com o perfil do presidente Lula e um período com uma mulher como a Dilma, Isso é um avanço político, civilizatório, sem precedentes. É por isso que eu disse: a maior contribuição, pra mim, é incorporar à cidadania política milhões de pessoas. A melhor tradução disso é o presidente Lula.

Nominuto: O PT vem crescendo desde a fundação, conquistando prefeituras e governos importantes. Com a chegada de Lula ao poder o crescimento se deu de forma mais rápida. Mas parece que no Rio Grande do Norte houve um movimento contrário e o PT encolheu. O senhor concorda que o PT do RN tem dificuldades para crescer?

Fernando Mineiro: Há uma imensa dificuldade. Mas não acho que é um movimento contrário. Veja só: tem alguns estados, entre eles o Rio Grande do Norte – poderia citar Alagoas, Tocantins, alguns estados –, que pelas características históricas, políticas, culturais a inserção do PT é muito mais difícil. Então, eu acho que há duas vertentes aí: uma decorrente das nossas posições; posições que a gente adotou, caminhos que escolhemos e, por isso, sofremos as conseqüências para o bem e para o mal; a outra é pela própria especificidade política do estado. Eu tenho dito que aqui as elites dominantes tradicionais têm uma capacidade muito grande de se reciclar e se renovar. Elas incorporaram muitas bandeiras que são patrimônio da esquerda. Isso dificulta. Não to dizendo que nós não erramos. Erramos muito, principalmente m 2008, não pela aliança, mas a forma como foi feita, a maneira como trabalhamos, adotamos a tática errada na proporcional, perdemos representação. Você pega as maiores cidades, Parnamirim e Mossoró, tem uma dificuldade. A polarização entre as próprias elites dominantes que se reproduzem, se renovam, se dividem para continuar no poder, dificulta a entrada do PT. Não é só um problema do PT. Os outros partido com perfil de esquerda também não crescem. O PCdoB ficou um tempão sem vereador, não tem representação na Assembleia Legislativa. É difícil fazer política de esquerda aqui.

Nominuto: Qual o tamanho do PT no RN?

Fernando Mineiro: O PT tem, em termos de representatividade institucional, quatro prefeitos (Janduís, Parelhas, Antônio Martins e Ipanguassu), 10 vice-prefeitos... temos o vice-prefeito de Caicó... Temos 52 vereadores no estado, o meu mandato na Assembleia Legislativa e o mandato da Fátima Bezerra de deputada federal. Além disso, tem a militância em todos os movimentos sociais, movimento sindical, urbano e rural, nas ONGs, na Academia. O petismo é espalhado, não é só a questão da representação institucional. O PT tem representatividade político-social na área da cultura, no meio ambiente, no movimento de mulheres, no movimento da juventude. Isso aí se traduziu em volume de votos nas eleições? Ainda não. Isso aí se traduziu em renovação das nossas preferências? Não. É preciso traduzir.

Nominuto: Voltando à história da fundação do partido, como se deu esse processo no Rio Grande do Norte?

Fernando Mineiro: Na verdade, a formação do PT no Rio Grande do Norte acompanhou a formação do PT nacional. No mesmo momento em que estava acontecendo lá, o Rio Grande do Norte começava também. O PT do RN foi formado por militantes de esquerda, militantes da Igreja Católica, professores, funcionários e estudantes da Universidade Federal. Eu entrei nessa parcela de estudantes. Era estudante à época, participava do movimento estudantil da universidade, era da direção do DCE e nós participamos desse processo. O PT é um grande rio com um conjunto de afluentes, cada um trazendo a sua contribuição.

Nominuto: Além da disputa nacional, temos aí a sucessão estadual, com o apoio do PT sendo bastante disputado pelas duas pré-candidaturas da base governista. Como o PT vai se comportar e qual a análise que o senhor faz desse processo eleitoral?

Fernando Mineiro: Eu acho que, a exemplo do cenário nacional, aqui também teremos uma polarização entre um conjunto de forças vinculadas aos setores mais conservadores – aí entra a candidatura da senadora Rosalba Ciarlini (DEM) vinculada à campanha nacional – e as forças políticas que dão sustentação ao governo do PSB, ao governo Wilma de Faria. Nós respeitamos a candidatura do PDT, quem tem sua legitimidade, mas o PT tirou uma resolução unânime. A aliança preferencial é com o PSB e com a candidatura Iberê, respeitando a candidatura [do ex-prefeito de Natal] Carlos Eduardo Alves (PDT). A deliberação é essa, ipsis literis. Participamos do governo [estadual] e temos como candidatura preferencial o PSB. Ponto dois: o PT vai se somar a esforços no sentido de unificar essa base. O PT tem um caminho definido em relação a isso, preferencial. Por que a palavra preferencial aí? Porque entendemos que a candidatura que tem condições de disputar e avançar é a de Iberê. Por que não é definitivo? Porque é preciso oficializar no congresso estadual do partido, em março ou abril. A formalização é no congresso. Nós temos a discussão sobre a questão nacional. Queremos o compromisso com a candidatura Dilma, assim como a questão do senado. Mas não tem nenhuma dubiedade, nenhum jogo duplo, nossa posição é muito clara. Ninguém no PT propôs o apoio à candidatura [do ex-prefeito de Natal] Carlos Eduardo Alves. Não existe esse debate dentro do PT.

Fonte: http://www.nominuto.com/noticias/politica/o-pt-virou-trintao/47233/

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