quarta-feira, 2 de dezembro de 2009




Lições dos mensalões demo-tucanos

Fica difícil escrever com tanta gente boa escrevendo magistralmente e sendo sistematicamente escondida. Vejamos que excelente editorial está hoje no site O Vermelho: São remotas as chances de José Roberto Arruda permanecer no Governo do Distrito Federal. A investigação da Operação Caixa de Pandora, apimentada pelos vídeos correspondentes, parece selar a carreira do único governador eleito pelo DEM (ex-PFL) em 2006, sobrevivente do Escândalo do Painel Eletrônico em 2001, que lhe custou o mandato de senador pelo PSDB. A Caixa de Pandora - que na mitologia grega encerrava todos os vícios - deve gerar um processo judicial que, como de costume, se arrastará por anos. Mas, as evidências recolhidas pela Polícia Federal tendem a gerar processos políticos mais ágeis: uma CPI na Assembleia Distrital do DF; e um pedido de impeachment, a ser apresentado nesta quinta-feira, 3, pela OAB-DF. "Estamos todos decepcionados com as imagens que vimos. É preciso providências enérgicas para que os políticos deixem de ver a coisa pública como se privada fosse", afirmou o presidente nacional da OAB, Cezar Britto. Partidos, entidades e movimentos do DF mobilizam-se para pressionar pela saída do governador. As mesmas denúncias ricocheteiam no iniciador de Arruda na política e seu atual desafeto, o ex-governador Joaquim Roriz, que seria o iniciador do esquema. Assim, a ação da PF desmantela de um só golpe os dois maiores esquemas conservadores da política brasiliense. Enquanto isso, o Supremo julga o "Mensalão Mineiro" do senador e ex-presidente nacional do PSDB Eduardo Azeredo (MG). A também tucana governadora gaúcha, Yeda Crusius, escapou por pouco de perder o mandato, beneficiada por erros políticos e de procedimento da oposição. Mas seu projeto de reeleição foi abatido pelo Escândalo do Detran/RS. E outra operação da PF, a Castelo de Areia, apura propinas distribuídas pela empreiteira Camargo Correia no Governo de São Paulo - embora com escassa visibilidade na mídia, pois atinge o presidenciável número um das oposições em 2010, José Serra. Assim, vão tombando os mantos de vestais puras e incorruptíveis que o bloco PSDB-DEM tentou se disfarçar. A figura do presidente da Assembleia Legislativa do Distrito Federal, Leonardo Prudente (DEM), enfiando dinheiro pelos bolsos e em seguida as meias, fala por si. O rosário de escândalos traz à tona uma questão de fundo: a relação contraditória, doentia mesmo, entre conservadorismo e corrupção no Brasil. Desde a finada UDN de Carlos Lacerda, passando por Jânio Quadros, os golpistas de 1964 e o ex-caçador de marajás Fernando Collor, nossa direita sempre agitou a bandeira da moralidade e da ética, com farta cumplicidade na mídia que ela controla. Em nome da moralidade levaram Getúlio à morte, perseguiram Juscelino, cassaram mandatos como o de João Goulart. Ao fim e ao cabo viu-se, em todos os casos, que era o contrário do que pregavam. Os próceres do PSDB, DEM, PPS e adjacências apenas reencenam, com menos talento, o mesmo velho script. O espetáculo da Executiva Nacional do DEM, adiando nesta segunda-feira um pronunciamento sobre o Caso Arruda, pareceu uma cena de ópera bufa. Nestes dias de mensalões demo-tucanos, uma evidência se patenteia, para o eleitor tirar consequências daqui a apenas dez meses. Acautele-se com os personagens que enchem demais a boca com a ética: na maioria esmagadora das vezes, são os que menos a praticam.

Nenhum comentário:

Postar um comentário